sábado, 27 de dezembro de 2008

A menina pastora indie

Mallu Magalhães apareceu. Alguém ouviu e achou legal. Foi ao Jô apelidar seus instrumentos com nomes fofos. De lá, deu entrevistas monossilábicas na MTV e uma operadora de celular a patrocina _ocupa uma faixa grande em sua home vendendo seu micro-mundo aos clientes.

Você quer? Porque parece estranho decidir sobre algo que já decidiram por você. Afinal, ela é a sensação e você tem que ouvir. Não perca tempo! Está no site da operadora, no myspace, o mundo em português sul-americano só fala dela e o Mário Caldato produziu o disco. Ele, o Mário Caldato _se você é cool ou o Marcelo D2, terá um disco produzido por ele. Então, você tem que gostar da Mallu, ouviu?

Eu ouvi. E poderia até gostar, se não passasse os últimos 18 anos ouvindo música e procurando coisa melhor do que o que vomitam para mim. Mas não gosto. Não vai ser o som do meu verão. Minha vida vai passar por esses meses de 2008 a 2009 e não vai parar para pensar como a voz dela soa. É familiar? Não é?

Então passemos a mais esse assunto do ano do vazio. Mallu Magalhães tem tanto talento quanto a menina pastora. Note, não há nenhum demérito para qualquer uma das duas. A menina pastora é impressionante, e a Mallu até poderia ser. Elas têm talentos que gente na idade delas não tem. Eu não tinha. E milhões que escrevem poesias às escuras dariam o mindinho para ter um milésimo da exposição das duas.

Mas daí vai uma distância assustadora. A coleção de discos do meu pai tinha só uma aquisição, um LP do Trio Parada Dura com o hit "Blusa Vermelha". Minha mãe gostava de modas que eu só conhecia de ouvi-la cantarolar "O Ipê e o Prisioneiro". A menina pastora indie ouviu Johnny Cash e Bob Dylan. Uau! Lembra do Donizeti, o menino de 9 anos que cantava "Galopeiro" e tinha uma voz fenomenal? Ele foi a Mallu de seu tempo. Mas àquela época ninguém notava fenômenos adolescentes.

A Mallu deve dar orgulho aos pais, assim como o seu sobrinho que aprendeu a tocar violão na igreja evangélica. Opa, e a menina pastora? Dizem que passada a febre, quando ela aparecia no Gugu e todo mundo comentava na segunda, hoje é só uma a mais.

Mallu tem sorte. Namora o Marcelo Camelo, um músico profissional. Deve agregar mais história até chegar aos 30 anos do que os parceiros da garota pregadora. Nesse ponto, pode até vingar. Até lá, vai ter que conviver com os pregadores das novidades. Triste vai ser descobrir se um dia ela for sem nunca ter sido. Ou a surpresa por sua voz doce ao violão sobrevive à onda do neo-folk?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Monólogo número 1

Sabe aquelas cartas empilhadas na estante? Desculpe, não consegui escrevê-las. E nem mesmo tive vontade. Saí pelas ruas, mas ela estava perdida entre o disco do Jeff Buckley e o livro de futebol com todos aqueles resultados de Roraima ao MS.

Te falei dos pôsteres em que comparo assuntos que ninguém vai querer ouvir? Pois é o meu refúgio nesses dias em que não saio à caça de vida nem mesmo de papo. Comprei alguns livros que deixei pela sala. Não li nenhum deles. Fez falta?

Ah, a esperança. Acho que ela deve estar meio perdida nessa confusão dos últimos meses. Quando achei que tudo estava resolvido, nada mais havia para resolver. Vou escapar arranhado ou nem mesmo vou escapar. A vida é para poucos, não para mim.