segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mário Simonal

Wilson Simonal tinha o público nas mãos nos anos 60, quando imperou ao lado do rei Roberto Carlos. Teve a chance de reger 30 mil pessoas em uma apresentação que não era a sua e ser o mais ovacionado em um festival de música que nem mesmo concorria.

Mas o que faz o “rei da pilantragem” neste espaço? Primeiro: “Ninguém Sabe o Duro que Eu Dei”, documentário feito a seis mãos, traz preciosidades que precisam ser vistas por quem curte o esporte. A principal delas, talvez, são imagens de bastidores da seleção na Copa do México, quando Simona era o convidado especial da delegação. Um inacreditável Pelé canta “País Tropical” para desespero dos colegas Paulo Cesar Caju, Edu e Carlos Alberto. No episódio do corte de Rogério (ex-Botafogo) e posterior convocação de Leão, Chico Anysio conta, incrédulo, que Simonal achava que fosse o substituto: “Ele acreditou! Ele acreditou!”

Pretensioso e desconhecedor da política, Simonal tropeçou numa falsa sensação de poder. Foi sabotado e limado do mundo da música. No fim da vida, emergiu do fosso em que foi deixado para levar provas de que não fora informante da ditadura a programas classe Z mais interessados em seu drama que na música.

A trajetória de Simonal tem algumas semelhanças com um boleiro de nosso tempo. Mário Jardel, ex-artilheiro de Grêmio, agora milita pelo interior do país. Diz ter sido traído pelas drogas, que roubaram a inspiração pelos gols e pela vida. Retornou ao clube em que foi formado, o Ferroviário-CE, mas saiu depois de poucos meses com apenas um gol. Agora, fala em jogar no Olaria, na segunda divisão no Rio, ou implora por uma chance do Benfica, o único da trinca portuguesa em que não atuou.

O que é certo é que Jardel interessa mais pelo seu drama pessoal do que pela bola. Se os clubes não querem mais saber do jogador, os programas de fofoca e jornais e revistas em busca da notícia fácil não pensam duas vezes antes de explorar o pai sem família, sem que ninguém saiba o duro que ele deu. Triste coincidência.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Viva Cantona!

Eric Cantona está de volta. Não aos campos em que brilhou nos anos 90, mas às telas de cinema. E ao lado de Ken Loach — se você não conhece, é um cineasta britânico que trata de questões políticas e de futebol com a simplicidade que elas merecem.

O francês é a estrela de um filme que empresta o seu nome, “Looking for Cantona”, cuja pré-estreia ocorreu anteontem em Cannes. Na obra, o astro entra em campo duas vezes: a primeira como um pôster que ouve as confissões e os pedidos de um carteiro e a outra como o próprio Cantona, que o aconselha uma vida melhor.

É interessante que o mundo volte a falar do ex-jogador justamente nesta semana, quando o Manchester conquista o segundo tricampeonato de sua história.

A razão de existir um clube tão profissional, que conquistou 11 títulos desde que surgiu a Premier League, em 1992, está vinculada ao sempre festejado Alex Ferguson e também a Cantona. Bad boy, conhecido por jogadas e problemas geniais (a voadora em um torcedor do Crystal Palace é tão lembrada quanto os gols que fez), o francês tornou-se a primeira estrela a vestir a jaqueta vermelha dos diabos — na época, há 25 anos na fila —, depois de ser praticamente arremessado para fora do então campeão Leeds United, hoje na terceirona inglesa. A troca de papeis entre os clubes é sintomática.

Talvez demore alguns anos para “Looking for Cantona” chegar por aqui, como ocorreu com outras obras de Ken Loach (“My Name Is Joe”, de 1998, só chegou em 2000 e tratava de... futebol). Mas será interessante ver o francês explicando que o melhor do futebol é o passe, não o chute. Bonito isso.