domingo, 5 de julho de 2009

Corinthians ou Curíntia?

Como pode um clube tão popular ter um nome tão britânico? Foi assim há quase 100 anos, quando um grupo de imigrantes, “à luz de um lampião, na esquina das ruas dos Italianos e José Paulino”, fundou o Sport Club Corinthians Paulista no Bom Retiro.

O objetivo ali era traduzir o ímpeto de um clube inglês, que brilhara em uma recente excursão para o Brasil, para o idioma local. Ou seja, mais do que o nome, “copiar” o espírito do Corinthians Team: um time que demorou a assumir o profissionalismo porque entendia o futebol mais como uma paixão do que um emprego. Nada mais corintiano.

O torcedor viu formas de grafia variando conforme as décadas — a revista “Placar”, por exemplo, chegou a adotar um “Coríntians”, assim, com acento, durante os anos 70 — até que optou-se pelo tradicional, com teagá e sem acento no i.

O popular Curíntia, das ruas e do tobogã do Pacaembu, é a versão oral dessa paixão, nunca escrita. Ou melhor, não havia sido escrita até que um jornal tratou de publicá-la, com a intenção de traduzi-la mais ao alcance da expressão.

Não é invenção. Tratar o sentimento alvinegro assim é traduzir o sentimento de arquibancada. Ouvir ou dizer “É Curíntia!” serve para apaziguar brigas ou simplesmente afirmar que ali corre um sangue sem frescuras, que a um simples empurrão (da galera, do pai, da esposa, do filho...) pega no tranco e parte para um resultado heróico. Isso sim “é curíntia”: comemorar um gol sofrido, um empate aos 47min do segundo tempo, um desvio de bico de um chute mal dado...

E não há nada menos corintiano do que firulas em campo. Corintiano que é corintiano vai direto ao ponto. E para bom entendedor uma boa palavra sem teagá e com acento no i já basta.